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Fantastic Entrevista... Bruno Ferreira


FANTASTIC ENTREVISTA 
TEMPORADA 5 / EDIÇÃO 8 / OUTUBRO DE 2013

Bruno Ferreira é imitador de vozes, ator e locutor. Já participou nos mais diversos foramtos de humor em Portugal, como por exemplo "5 Para a Meia-Noite" na RTP. Hoje, é o nosso convidado do "Fantastic Entrevista", numa grande conversa com este multifacetado talento nacional.

1 - Bruno Ferreira é o "rapaz que imita vozes" que tanto sucesso tem feito junto do público. É assim que é reconhecido pela maioria das pessoas. Como é ser reconhecido desta forma?
É bom e gratificante, porque é esse o trabalho que faço com maior exposição pública, apesar de fazer muitos outros projectos que não implicam a imagem, mas a voz ou a escrita. E esta forma de trato por parte do público implica o reconhecimento do meu trabalho o que, no fundo, dá razão de ser á minha actividade.

2 - Desde cedo assumiu o seu talento para a imitação. Já em pequeno imitava amigos, familiares e até professores. Quando é que este talento passou de um "passatempo" para uma forma de trabalhar?
Segundo os meus familiares foi assim desde sempre. Comecei por imitar colegas e professores, e depois os intervenientes das notícias da televisão e, invariavelmente, os personagens do Herman. Diria que comecei a tornar-me profissional com o Contra Informação, em 1997. Desde então que a voz faz parte do meu dia-a-dia. Seja no aspecto humorístico da imitação, seja na utilização mais institucional na publicidade e em locução de um modo geral.


3 - A imitação de vozes está constantemente associada ao humor. Como vê este género, atualmente, em Portugal?
Creio que desde há uns anos a esta parte o humor no nosso país tem vivido bons tempos. No meu ver os percursores mais recentes do humor televisivo – falo dos últimos 20 anos – foram o Herman e o Contra Informação, que inauguraram novas formas de abordagem humorística, foram inovadores nos seus registos e educaram o país, sempre muito conservador, a ver o humor de outra forma, talvez mais arrojada, sem que o seu conteúdo tivesse de ser necessariamente censurável. Depois surgiu o inevitável Levanta-te e Ri, por onde tive a sorte de ter passado, que trouxe o modelo saxónico de Stand Up Comedy para Portugal, afirmando vários talentos deste género específico. Bruno Nogueira será o mais destacado. Os Gato Fedorento, sobretudo na pessoa do Ricardo foram, também, um fenómeno incontornável no humor nacional com uma qualidade fora de série. Mas penso que o humor está obrigatoriamente associado aos tempos mais difíceis, porque é um contrapeso, uma espécie de tónico revigorante que as pessoas podem usar para amansar as dificuldades do dia-a-dia. Pelo que dado o contexto de crise económica e social que o país está a atravessar, a própria actividade humorística viva dias de maior pujança. E felizmente democratizou-se bastante. Actualmente existem diversos tipos de humoristas que trabalham e satisfazem outros tantos tipos de público, e isso é muito positivo. Um país que se sabe rir é seguramente um país melhor. Mas é bom não esquecer que nos momentos de crise, e por causa dessa mesma situação de dificuldade, os humoristas têm maiores dificuldades em receber o valor do seu trabalho. Por um lado porque a pretexto da crise os preços baixam, e depois porque são pagos cada vez mais tarde…


 4 - Luís Franco Bastos e Pedro Soares são dois jovens imitadores que já fazem sucesso junto do público. Como vê os outros talentos na arte da imitação de vozes? Teme pela concorrência ou fica contente pelo alastrar desta técnica?
Absolutamente. Levo 15 anos de actividade profissional e quando comecei tinha as minhas referências de colegas que trabalhavam nesta área. Falo de João Canto e Castro, com quem tenho tido o privilégio de trabalhar ao longo dos últimos anos, e também de Fernando Pereira, com quem também já tive o prazer de trabalhar para televisão e em casinos. É natural que surjam novos valores, é assim em todas as actividades. O Luís Franco Bastos tem dado provas de ser um grande profissional e sou fã do seu trabalho. Teve o mérito de ter trazido um interesse maior pela imitação de vozes, e isso é importante porque nos valoriza a todos. Sobre o Pedrinho – e é assim que o trato porque foi no 5 Para a Meia Noite que o conheci, e que ele começou, num momento chamado Speed Battle – é outro caso de elevado talento. Não tenho dúvidas de que se ele quiser, porque sei que é trabalhador, terá o seu lugar assegurado. Não temo pela concorrência, acho que ela é salutar e nos obriga a renovar-nos e a não descansarmos à sombra de nenhuma bananeira.

5 - "Contra Informação" (agora Contra Poder) é um dos formatos mais interessantes para pessoas que imitam personalidades. Atualmente, este formato não faz tanto sucesso como no passado. Porquê?
O Contra Informação foi uma parte importante da minha vida durante mais de 14 anos. Aprendi muito com o programa. Foi uma escola de tantas coisas. De trabalho, empenho, espírito de equipa, amizades. Passei pela produção, pelo estúdio, pelos eventos, acho que experimentei tudo o que podia com o Contra. Actualmente, e desde março, o programa está na SIC Notícias (e também na Radical e na Internacional). Contudo creio que é injusto comparar os resultados de um programa em sinal aberto com um canal cabo. Por outro lado creio que o Contra se reveste das características de um programa de culto, com muitos seguidores. Não é uma novidade e não se pode comparar com o seu início em 1996, na RTP, quando tudo estava a começar. O programa terminou em 2010, esteve dois anos afastado dos écrans de tv até esta nova aposta da SIC. Mas durante esse tempo as pessoas continuaram a perguntar-me na rua quando é que o programa voltava, porque é que tinha acabado, e organizaram-se nas redes sociais com páginas sobre o programa e com petições on-line para trazer o Contra de volta. Isso mostra que o público não era indiferente ao programa. Atualmente o Contra tem uma nova equipa de argumentistas, realização, produção, por isso penso que precisa de tempo para se voltar a afirmar. Talvez nós próprios, intervenientes, ainda não estejamos completamente satisfeitos com o nosso trabalho no programa, mas sabemos que estamos no bom caminho. E isso é bom, porque nos torna mais exigentes naquilo que fazemos. Mas só seria justo comparar o Contra Informação com o Contra Poder, um dia que a SIC tivesse o interesse de o promover em canal aberto.


6 - Experimentou ainda o papel de narrador no "Conta-me História" da RTP1. Como foi trabalhar num formato que mistura entretenimento e história? Fazem falta mais programas do género?
A experiência foi fantástica. É um daqueles casos em que juntamos a sorte de estar a trabalhar com o prazer que esse trabalho nos proporciona – tal como me acontece com o 5 Para a Meia Noite. A equipa do Conta-me História é fantástica e conseguiu trazer para casa dos espectadores um autêntico género inovador de serviço público, que tantas vezes as pessoas pedem em troca do chamado telelixo. O Conta-me História passou pelos momentos mais significativos da história do nosso país, e fê-lo com uma linguagem inovadora. Dramatizada, com uma produção cuidada, mas também plástica com recurso a animação. Tudo isto com uns toques de humor do Luís Filipe Borges numa excelente co-apresentação com o historiador Fernando Casqueira, e com guiões refrescantes, mas sem perderem rigor histórico. Para além da locução tive o privilégio de interpretar D. Afonso Henriques, o que me deu um gozo gigantesco, por se tratar de quem foi, mas também porque não era um papel humorístico, o que representou um grande desafio. Precisamente por considerar que este género de programas faz bastante falta na televisão – conheci casos de jovens que estavam a estudar na escola matérias abordadas no programa e que gravaram a série para estudar – espero que regresse mais uma temporada de Conta-me História à RTP.


7 - Também já fez dobragens para desenhos animados. Qual a principal diferença entre este e os outros trabalhos?
Tenho tido a sorte de fazer dobragens com alguma regularidade desde há uns dez anos para cá. Recentemente fui  a voz do ART, da Universidade dos Monstros, nas salas de cinema. É um trabalho muito técnico que depois de aprendido e percebido se torna bastante divertido. O actor de dobragem parte com um pressuposto: trabalhar em cima do trabalho feito pelo seu colega. Ou seja, como a animação se constrói tendo por base a gravação da voz do actor original, a margem de manobra para a criação do actor dobrador é muito reduzida. Os tempos e as intenções foram imprimidos pelo actor original. Nós temos de ir atrás desse trabalho, sempre com muita atenção aos tons de voz que ele utiliza, às suas expressões físicas e faciais, aos seus estados de alma, e passá-lo para português. Mas de modo credível, com a nossa maneira de falar, as nossas entoações e expressões idiomáticas. Isto sem perder a personalidade do personagem. É sobretudo um trabalho a três. Entre o director de dobragem, o actor, e o técnico se som, uma vez que os vários actores nunca gravam todos juntos.


8 - Como reage ao facto de o público lhe pedir constantemente que imite personalidade X ou Y? Nunca se cansou do que faz?
Reajo bem, essa é a extensão do nosso trabalho, do ecrã para fora. É por isso que as pessoas me conhecem, pelo que faço. E se o que faço é imitar vozes, e se gosto do que faço, não tenho nenhum problema em fazê-lo quando mo pedem. Uma vez num Centro Comercial reparei pelos vidros das montras que estava a ser seguido há uma série de tempo por um miúdo que andava a ganhar coragem para me pedir para imitar umas vozes de que ele gostava muito. Depois de perceber facilitei-lhe o trabalho e ele lá se foi embora todo contente depois de ouvir as imitações. Acho que esta é também uma responsabilidade que arrastamos connosco diariamente. É certo que não somos só o que fazemos na televisão, mas também somos essa pessoa.


9 - Qual a personalidade que ainda não consegue imitar, mas que gostaria? E qual é aquela que lhe dá mais gozo imitar? Porquê?
São muitas as vozes que não consigo imitar e que gostaria, mas a verdade é que este é um trabalho em que nunca nos devemos dar definitivamente por vencidos. Assim de repente lembro-me do Alberto João Jardim. E neste caso o problema não é o timbre, a voz em si, que até consigo, mas a pronúncia madeirense. E quem diz João Jardim, diz Leonardo Jardim, o treinador do meu Sporting que nos próximos tempos vai ser uma voz obrigatória. Talvez sejam motivos suficientes para uma viagem à Madeira em modo “trabalho de pesquisa”. Acho que a melhor imitação é capaz de ser a do Paulo Portas. E foi daquelas que por sorte surgiu em cinco minutos. Ao contrário de tantas que me levam tempos e tempos, como o ex-ministro das finanças, por exemplo, que depois me levou a ser protagonista das últimas campanhas de televisão e rádio do Jumbo. A voz que mais gozo me dá imitar é a do ex-presidente leonino Dias da Cunha porque as pessoas adoram esse boneco, e a do treinador Jaime Pacheco. Apesar de serem muito caricaturais são das que melhor resultam. Já agora aproveito para convidar os leitores a visitarem o meu site brunoferreiraonline.com, onde estão estes e muitos outros trabalhos.

10 - Com tantas pessoas 'dentro' de si, às vezes é complicado descobrir o verdadeiro Bruno Ferreira? Como e que se descreveria, se lhe pedissem isso?
Não é nada difícil descobrir o verdadeiro Bruno Ferreira. É um profissional que tem a sorte de adorar o trabalho que faz e de se divertir a trabalhar e que por isso mesmo é muito grato à vida que leva. E que não perde em momento algum a noção de que as coisas são voláteis, por isso tenta aproveitar ao máximo cada projecto e cada trabalho. É um profissional sério e leal. E acho que não é falta de modéstia dizer que é um tipo porreiro.

 

RESPOSTA RÁPIDA
Uma voz... Barry White
Um ídolo... Frank Caliendo
Um filme... Blow Up
Uma música... Little Man, dos Little Dragon
Um dia ideal... Numa casa com piscina, em frente ao mar, com a família e os amigos
Um defeito... Teimosia
Uma qualidade... Lealdade
A companhia perfeita... A família
Um objetivo de vida... A paz de espírito
O Bruno Ferreira é... Um amante das coisas simples, como o sol, a areia, o mar, uma viagem, e dos momentos partilhados com quem mais gosta.

EM MAIO, BRUNO FERREIRA DEU OS PARABÉNS  AO FANTASTIC DE UMA FORMA MUITO ORIGINAL:


FANTASTIC ENTREVISTA - Edição 47

Convidado: Bruno Ferreira
Produção: António e André
Fantastic 2013