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Reportagem Especial | "Prémios Áquila" (Parte I)




O final deste ano marcou o começo de uma nova era de cerimónias culturais em nome do Cinema e da Televisão produzidos em Portugal. Os Prémios Áquila levantaram voo, como a águia que prometem ser, sobrevoando orgulhosamente a indústria audiovisual portuguesa. A primeira cerimónia que homenageia, na mesma noite, os melhores projetos de Cinema e Televisão do ano (e não só), decorreu na Sala Manoel de Oliveira, no Cinema São Jorge, em Lisboa, no dia 30 de novembro. Estão lançadas as pedras basilares para mais uma comemoração que pretende conquistar longevidade e demarcar-se das restantes na área, primando pela sobriedade, ecletismo e independência. Os Prémios Áquila colocaram na mão do público a tomada de todas as decisões – e o público votou nos projetos que mais marcaram os ecrãs em Portugal.

A Fénix2014 Associação Cinematográfica é a responsável pela promoção dos Prémios Áquila e pretende “dinamizar e prestigiar a Televisão e o Cinema português”. A ela se agrupam outras entidades empenhadas na mesma nobre missão, como a Academia Portuguesa de Cinema (Prémios Sophia), a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA, Gala dos Prémios Autores) e a RTP, que a propósito do seu 57º aniversário realizou a gala dos Prémios Lumen, mas não fez a transmissão do evento da SPA este ano por razões orçamentais. Os Globos de Ouro, um exclusivo da SIC, e os Troféus da revista TV7Dias compõem o leque de eventos anuais especialmente dedicados à entrega de prémios e menções honrosas. Todos procuram, cada qual à sua maneira e seguindo a sua matriz, premiar o que de melhor se faz em Portugal e, no caso dos prémios com transmissão em direto, dar a conhecer ao público o vasto universo de projetos e autores que existem para lá das telenovelas e séries emitidas de empreitada pelos generalistas.


A 1ª Cerimónia Anual da Televisão e do Cinema Português foi organizada pela BryonProduções (foram atribuídas 300 credenciais entre equipa e Imprensa) e não contou com qualquer apoio do Instituto do Cinema e Audiovisual. Talvez por isso tenha apresentado uma gala discreta, reservando a pompa e circunstância que o evento merecia (a cenografia do palco e o alinhamento poderão ser aspetos a melhorar). Uma das vantagens foi ter ficado afastada das multidões, dos desfiles de moda mais fúteis e a salvo do crivo humorístico habitué das galas da SIC, por exemplo. Por isso, a passadeira-vermelha não se deixou desvirtuar pela feira de futilidades e publicidade às marcas e estilistas, tendo em conta que a organização até teve falta de fotógrafos para registar os convidados no chamado photocall.

Com início marcado para as 21h30, a gala começou atrasada. A entrada dos 830 convidados na sala foi o momento escolhido para a exibição de um vídeo de agradecimento de Maria José Galvão Sousa, porta-voz dos Prémios Áquila, que assim agradeceu a todos os patrocinadores e apoios do evento, depois de receber os convidados na passadeira-vermelha. Filomena Cautela, a apresentadora da noite, viria a assumir o comando da gala mais rápida de sempre, dando a voz ao microfone com uma intervenção de circunstância e bastante bem humorada, graças às deixas de Miguel Ponte, co-apresentador. O anúncio do primeiro prémio marcou o ritmo de uma cerimónia bem resolvida e palco, também, de alguns contratempos.


Na “noite de todas as estrelas”, algumas estrelas não brilharam no palco. Foi o caso dos atores Rui Neto, Rita Blanco e Dalila Carmo, ausências de extrema relevância no momento da entrega dos respetivos prémios – o palco deixado nu criou um certo embaraço para os co-apresentadores convidados e para toda a plateia do São Jorge. Os discursos de agradecimento viriam a apontar, sarcasticamente ao longo da noite, as faltas de comparência dos artistas, provando que prevaleceu o sentido de humor face à “falta de chá” da circunstância. Rui Neto, refira-se, estava a caminho da Avenida da Liberdade, e o facto de estar a passar por Vila Franca de Xira não poupou uma piada sobre a legionella.

A cadência da entrega dos prémios permitiu um alinhamento “direto ao assunto”, sem rodeios artísticos e preenchido, antes e depois do intervalo, por atuações em palco. A primeira coube à banda “MurMur”, em que a atriz Sandra Celas é vocalista, e a segunda à talentosíssima e reconhecida artista internacional Sofia Escobar. A sua interpretação do tema “Over The Rainbow”, com Nuno Feist ao piano, deixou a plateia rendida à beleza e alcance da sua voz, marcando a cantora mais uma vez presença num evento nacional, mau grado o país não “falar muitas vezes” de si, como referiu José Raposo arrancando aplausos à assistência.


Além da atribuição das estatuetas em forma de asa, alusivas à águia que o termo “Áquila” refere, tempo houve, ainda, para a exibição de alguns vox-pop temáticos, entrevistas de rua que convidaram o público a pronunciar-se sobre o que mudaria na televisão portuguesa e como caraterizaria o cinema português. Se, no primeiro caso, as respostas foram previsíveis (e risíveis) – “acabava com os programas de domingo” e “o Telejornal é secante” foram alguns exemplos –, a segunda entrevista identificou um público com sérias dificuldades em formar uma resposta construtiva, como se existisse alguma ciência por detrás de uma opinião consciente. 

Os intervenientes começaram por considerar o cinema nacional “pouco atrativo para o público nacional, mas com qualidade” e outros confessaram nunca ter visto, mas gostavam de “experimentar”. Houve ainda uma senhora que não se atreveu a comentar o cinema por considerar “leviano” da sua parte e quem considerasse o cinema português, pelo contrário, “surpreendente e um bocado a remar contra a crise”. As últimas respostas ficaram “empatadas” no que ao surrealismo diz respeito – “os filmes portugueses são bons, mas eu gosto mais dos ingleses e de ver aqueles atores bons, mesmo de cinema, Tom Cruise e esses filmes assim” e “eles têm o som de tal maneira alto, que de cada vez que vou ao cinema, vou com uma valente dor de cabeça para casa”, terminando o vox-pop com a plateia verdadeiramente divertida e espantada.


No discurso de fecho, Filomena Cautela deixou no ar a certeza de que os Prémios Áquila vão voar mais alto, assegurando futuras melhores edições como desafio às condições conturbadas que a Cultura, em todas as suas manifestações, atravessa no país. A noite de gala inaugurou, assim, um excelente precedente para a realização de eventos verdadeiramente culturais, hinos à produção televisiva e cinematográfica em português de Portugal.

Reportagem Especial | Prémios Áquila  (Parte 1)
Texto: André Rosa
Fotografias: André Rosa / Ana Carolina Bico
Novembro de 2014