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Duplo Clique | "A Estrela que Todos Querem"

 

“Rising Star” quer ser a “Próxima Estrela”. Os espectadores querem todos votar no programa mais interativo de sempre até Israel se lembrar de fabricar uma nova interatividade. Os concorrentes querem ascender aos píncaros das pautas musicais, mostrar o que valem em cima do palco, tocar os corações do público e mover-lhe os dedos sobre os ecrãs móveis. Neste programa todos almejam sucesso e reconhecimento, subindo a bordo do carrossel que só trabalha ao domingo. “Rising Star” promete iluminar as noites a uma escala impressionante para os padrões a que a televisão portuguesa nos habituou – e dá na TVI, que desta vez se lança na senda dos talent-shows.     

A próxima estrela começou por ser um pirilampo, até ganhar vitalidade na estreia de domingo. No entanto, marcou audiências um pouco aquém das esperadas para um programa que, na sua génese, tem muito de épico: 1 milhão e 365 mil pessoas, em média, assistiram à emissão conduzida por Leonor Poeiras e Pedro Teixeira. São eles os apresentadores carismáticos e competentes que, a juntar a um cenário a perder de vista, uma realização arrojada, banda ao vivo e promissores concorrentes, pretendem rentabilizar o investimento da TVI. 
Longe de ser um programa dirigido exclusivamente para as famílias, “Rising Star” é um programa descontraído, pensado para o segmento jovem e para todos os que gostam de ouvir música pelas colunas da televisão. Tal como em todos os programas deste género, assenta numa narrativa de histórias de vida mais ou menos tocantes acerca dos concorrentes, até ver, exploradas sem grande alarido ou focos sensacionalistas, mas com muita conversa.

Na verdade, a dinâmica de “Rising Star” apresenta-se previsível, ocasionalmente enfadonha para o espectador (o que é perigoso para o processo de fidelização do público). Leonor Poeiras, eterna conversadora do “Quem Quer Ganha”, tem a missão de conduzir os momentos de circunstância aparando os concorrentes em palco; já o subitamente despromovido apresentador aparece confinado à sala de entrevistas, qual repórter à procura da tensão, lágrimas e abraços dos familiares e amigos dos cantores. A primeira emissão comprovou que Pedro Teixeira não joga em casa, mas que terá a ganhar se fizer valer o seu perfil quebra-gelo junto do público feminino – afinal, ele é “bom rapaz”!

Bons rapazes serão igualmente os dois jurados que se sentam àquela mesa tecnológica – Carlão e Pedro Ribeiro –, elegantemente acompanhados de duas grandes vozes da praça portuguesa, Rita Guerra e Cuca Roseta. O painel é exigente e eclético, o que garante a diversidade de votações e justificação das setas vermelhas; naturalmente escolhido a dedo para ofuscar o brilho do Júri do programa “The Voice”, que já voa alto na RTP. De resto, todos eles são estrelas de luminosidade Duracell. 

“Rising Star” não é o seu programa de domingo à noite. Não veste de gala, dispensa corpo de baile, não tem medo de deixar o palco meio nu. Porque, de facto, a grande estrela não são os talentos que o pisam, é o ecrã gigante semicircular que separa fisicamente a plateia e o Júri dos artistas. Uma abordagem elevada de espírito poderia encarar o ecrã como uma metáfora das oportunidades da vida, uma porta que se fecha e uma janela que se abre. Mas os valores da Televisão comercial são outros. Por isso mesmo, “subam o ecrã!” vai ser a frase mais sonante dos domingos à noite.

Braços ao ar, euforia em direto, ergue-se o ecrã gigante que garante toda a espetacularidade visual e cenográfica de “Rising Star”, a megaestrutura caprichosa que obrigou a montar o maior estúdio de Televisão do momento no Pavilhão de Odivelas. “Todos a Odivelas” poderia ser o slogan do formato, que coloca as fotografias de uma minoria de espectadores numa grelha digital atualizada ao segundo. É um ânimo para o ego dos artistas que conquistam 70% dos votos e uma injeção de cinco segundos de fama mediática para os anónimos espectadores que votam na aplicação.


Como era de esperar, a aplicação interativa foi o pormenor de toda a produção que mais água deu pela barba à TVI e à produtora Screenz Crossmedia. A extinção do voto pago pelas chamadas telefónicas obrigou, sem surpresa, a sacrificar as franjas tecnologicamente excluídas da população – sendo que até mesmo os detentores dos mais avançados telemóveis tiveram dificuldades em efetuar o download. Será mesmo este o futuro do voto à distância nos programas de televisão? É de duvidar, num contexto em que os canais privados registam quebras acentuadas do investimento dos anunciantes, obrigando-os a gerar receita através de game-shows popularuchos e outras campanhas de prémios. Este futuro interativo e completamente gratuito não deverá chegar já amanhã à Televisão nacional, pelo menos enquanto o “Sextas Mágicas” da SIC existir. 

Estreou finalmente o aclamado “programa do ano”, com registos estatísticos assinaláveis: mais de 1 milhão de votos interativos, 50.000 fãs no Facebook, 230.000 downloads na loja Apple e um total de audiência de 3 milhões e 700 mil espectadores, de acordo com a GFK. “Rising Star” é doravante o programa em que teoricamente todos podem votar, decidindo ao minuto o progresso, ou não, dos artistas em palco. É dourado, azul, fulgurante e musical. Será a última estrela do pacote?


DUPLO CLIQUE [3ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa