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Duplo Clique | "A Vida é deles e a bola é nossa"


A RTP chutou a bola para o meio-campo mais próximo de todos nós, espetadores: o nosso sofá. Porque é no sofá, com familiares e amigos, que assistimos, efusivos, aos jogos da Seleção Nacional, não podia deixar de ser ele o “relvado” privilegiado para a “outra vida” da Seleção portuguesa chegar até nós e marcar um golo emotivo. “A Outra Vida da Seleção” não tem pudores em promover a associação com a MEO, mas é um programa de serviço público que procura acrescentar valor às intermináveis horas e programas que exploram no Mundial 2014. Será que consegue?  


O episódio de estreia parece ter ficado muito pelo relvado, não satisfazendo por completo a curiosidade e expetativas que a palavra “bastidores” suscita nas audiências. O programa, que resulta de uma parceria entre a RTP e a Federação Portuguesa de Futebol, teoricamente promete abrir os acessos dos bastidores aos espetadores mais curiosos e apaixonados, de forma a revelar o que acontece na vida da equipa fora do relvado, mas entre os balneários, autocarros, quartos de hotel e conferências de imprensa pouco se viu de excecionalmente novo e diferente daquilo que todos os meios de comunicação já divulgaram. Na verdade, o programa foca-se nos dois anos em que a Seleção Nacional se debateu em campo com 6 adversários em 12 jogos, até ao apuramento que carimbou o nosso passaporte de entrada na maior competição de futebol do Mundo, organizada pela FIFA.  


A narrativa assume o tom épico, digno do desporto rei que move mundos e fundos, que inflama paixões e o nosso patriotismo, e marca uma era de modernidade na conceção dos programas da RTP. O canal ajustou-se ao grafismo colorido e dinâmico da FIFA e construiu um fio condutor esteticamente mais limpo e cativante em relação ao que é costume, especialmente para as audiências jovens. Nesse sentido é de destacar a realização arrojada das gravações e a sincronização perfeita entre uma banda-sonora atual e as imagens impactantes (“inéditas” e “exclusivas”), oscilando sem medos entre ritmos e atmosferas mais descontraídas ou emocionantes.  


“A Outra Vida da Seleção” não cheira a Brasil mas cheira bem a Mundial. Transmite (talvez de forma demasiado comedida) as emoções dos jogadores e da equipa técnica portuguesa durante a fase do apuramento e do play-off para o Mundial, ao mesmo tempo que dá a conhecer ao espectador/adepto – mediante uma lente mais próxima e a narração de profissionais da Seleção – o trabalho árduo de todos aqueles que conduzem os destinos da bandeira lusa em terras brasileiras. Infelizmente, o jogo de estreia contra a Alemanha, que decorreu em Salvador da Baía, foi um autêntico desastre, uma “pesada derrota” desmoralizante. Quanto a emoções fortes pode a RTP arrogar-se o direito de ter a exclusividade, tendo canalizado 5 milhões de euros para a compra dos 64 jogos de futebol que saturam a grelha do canal durante semanas – daí o Mundial ser RTP, mas ficando por provar se a RTP “somos nós”, portugueses, nos restantes dias em que Portugal não joga.  


Este programa tem muito mais a mostrar no campo televisivo, não esgotou ainda a suas melhores potencialidades. Tratando-se uma linha cronológica, apresenta a vantagem de incutir no espetador o desejo de continuar a seguir a “outra vida” da Seleção Nacional, tudo o que de mais espetacular ou complicado a equipa experienciou ao correr com a bola aos pés. Qualquer cliché cairia bem neste final, mas à parte lugares comuns, uma coisa é certa: a vida é deles mas as camisolas que vestem carregam o espírito de um país inteiro – Portugal!
 DUPLO CLIQUE [8ª EDIÇÃO]
Uma Crónica de André Rosa